quinta-feira, 7 de julho de 2011

Não ter medo na infância pode ser mau sinal

Se seu filho, mesmo pequeno, reage sem medo a situações que normalmente amedrontariam as crianças, alguns estudos indicam que é para você ficar atento. A não reação ao medo pode estar, biologicamente, relacionada a ações violentas na fase adulta. Pesquisas neurológicas apresentadas no último mês no 7º Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções, realizado em Gramado, apontaram que pessoas com um volume entre 10% e 11% menor das amídalas cerebrais e da região frontal do cérebro apresentam maior índice de violência. A relação com o medo nas crianças foi associada pelo método da pesquisa.

Realizado por pesquisadores americanos com 1,8 mil crianças acompanhadas a partir dos três anos, nas Ilhas Maurício, no Oceano Índico, o estudo se iniciou há mais de 30 anos. O método foi realizar testes psicofisiológicos de resposta emocional a estímulos desagradáveis. As crianças foram submetidas a sons que provocavam medo, e a reação delas foi medida pela eletricidade da pele, que muda conforme a intensidade das emoções sentidas. A partir daí, essas crianças foram acompanhadas por mais de 20 anos, e seu comportamento, analisado na idade adulta.

Quando as respostas emocionais foram avaliadas aos três anos, um subgrupo das crianças não apresentou reação de medo. Ao serem reavaliadas na idade adulta, entre os que cometeram algum tipo de crime estava o maior percentual de indivíduos que não sentiram medo no teste da infância.

— Esses dados têm sido corroborados por estudos em adolescentes e adultos, em vários centros de pesquisa, que avaliaram o volume das estruturas cerebrais responsáveis pelas emoções e pelo comportamento em sociedade. Nesses estudos, feitos com exames de ressonância magnética de alta resolução, confirmou-se que, entre o grupo que comete crimes, existe um percentual bem mais elevado de indivíduos com redução no volume daquelas estruturas cerebrais — explica o neurologista André Palmini.

De acordo com o especialista, a importância dos estudos é que há mais conhecimento sobre os fatores de risco para comportamentos violentos. Além dos fatores psicossociais, como privações na infância, agora sabe-se também que elementos biológicos fazem diferença.

Exames ainda longe dos consultórios

De acordo com o neurologista André Palmini, ainda não há como realizar exames em pacientes individuais que determinem se um indivíduo pode vir a ser violento analisando unicamente suas estruturas cerebrais. As conclusões da pesquisa foram aplicadas a um grupo e devem ser aprofundadas para que se entendam as relações entre estrutura do cérebro, emoções e comportamento social.

A contribuição dos estudos recentes é que se deve olhar com cuidado as crianças que têm poucas reações de medo a estímulos que provocam medo na grande maioria delas. Elas podem ter um risco maior de cometerem atos violentos na adolescência e na fase adulta.

— Por isso, elas merecem mais carinho, maior atenção, mais exemplos de bem estar, de respeito. É preciso ter intervenções no sentido de prevenir o ambiente agressivo — sugere.

Conforme o neurologista, considerando outros estudos, uma alimentação rica em ômega 3, frutas, verduras e peixes pode reduzir os riscos de violência, assim como o trabalho conjunto com especialistas das áreas de psicologia, neurologia e educação.

Com informações do Caderno Meu Filho ZH.

Nenhum comentário:

Postar um comentário