quinta-feira, 16 de junho de 2011

Vilões invisíveis: intoxicação alimentar pode trazer sérios danos à saúde


O surto de infecções pela bactéria E.coli — iniciada na Alemanha e amplamente divulgada na mídia por ter causado várias mortes — reacende o debate sobre a importância de prestar atenção ao que estamos colocando em nosso prato. Na maior parte das vezes, eles não causam problemas, mas quando a higiene não ajuda, os micro-organismos patogênicos proliferam-se na comida e provocam um grande estrago. Náuseas, vômitos, diarreia e a sensação de que nada para no estômago são sintomas comuns de quem já sofreu com uma intoxicação alimentar. E pouca gente não contabiliza pelo menos um episódio ao longo da vida.

Não há dados precisos sobre qual a dimensão do estrago que estes micro-organismos causam na saúde do brasileiro. Os mais recentes dados divulgados sobre o assunto são da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Segundo a entidade, mais de 117 mil brasileiros adoeceram e 64 morreram entre 1999 e 2008 devido à complicações das intoxicações alimentares. Número que, segundo a gastroenterologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e do Instituto do Aparelho Digestivo de Porto Alegre (IAD), são subestimados.

— A maior parte dos casos é passageiro: em dois ou três dias, os sintomas desaparecem. Só são contabilizados os pacientes que chegam ao hospital. Acredito que esse número seja três vezes maior — afirma a especialista.

Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estimam que 76 milhões de pessoas sofram um episódio a cada ano. Neste país, uma entidade de defesa do consumidor baseou-se em dados recentes dos CDCs, da FDA (agência que regula fármacos e alimentos) e de universidades para apontar os maiores vilões da alimentação segura. Folhas verdes, ovos, atum, ostras, batata, queijo, sorvetes, tomate, couve-flor e frutas vermelhas, nessa ordem, foram os campeões de problemas. As carnes não entraram no levantamento, mas também são fontes perigosas quando mal cozidas ou mal acondicionadas.

— Bactérias como a E.Coli, que se proliferam no estômago e intestino, são facilmente propagadas de pessoa para pessoa caso haja falta de higiene. A tendência de comer fora de casa, em bufês e em locais que não sabemos a procedência dos alimentos e como eles são preparados, aumenta a chance de contaminação — ressalta Cláudio Rolim Teixeira, da Fundação Rio-grandense de Gastroenterologia (Fugast).

Saiba mais sobre as intoxicações

O que é? A intoxicação alimentar é uma infecção causada ao consumir qualquer alimento contaminado. Essa contaminação pode ser com bactéria, vírus, toxinas, fungos ou parasitas. Ela ocorre sobretudo no modo inapropriado de manusear, preparar e estocar a comida. A infecção também pode ocorrer caso se adicionem pesticidas ou medicamentos nos ingredientes que serão ingeridos, ou acidentalmente, quando são consumidos alguns peixes ou cogumelos venenosos. O contato entre alimentos e pestes — moscas, ratos e baratas — também podem causar a contaminação.
Todo alimento possui micro-organismos, mas isso só será um problema quando as bactérias patogênicas estão presentes e damos chances delas se reproduzirem. Ou seja, quando deixamos uma salada de maionese caseira em temperatura inadequada. Os ovos crus ou mal cozidos, pratos como lasanha e estrogonofe, carnes vermelhas, sobremesas, queijos e embutidos devem receber atenção redobrada. Via de regra, qualquer alimento manipulado, que não é industrializado e passa por rigorosos controles de qualidade, pode causar uma intoxicação.

Entre as infecções mais comuns, estão aquelas provocadas por bactérias como a salmonela (presente em carnes, laticínios e ovos), pela cloristridium botulinium (encontrada em enlatados como o palmito) e pelas shigellas (pega com água contaminada). No verão, em função do calor, os casos são bem mais frequentes. No inverno, as intoxicações provocadas por vírus, como o rotavírus, predominam.

Tempo de aparecimento dos sintomas: o tempo entre o consumo de alimento contaminado e o aparecimento dos primeiros sintomas da doença é chamado período de incubação, que varia de algumas horas a dias), dependendo do agente e o quanto foi consumido. Se os sintomas aparecerem entre uma e seis horas depois de ingerir o alimento, isso sugere que a intoxicação foi causada por uma toxina bacteriana, ao invés de bactéria viva.

Durante o período de incubação, micróbios passam pelo estômago até o intestino, prendem-se às células do revestimento da parede do intestino, e começam a se multiplicar nesse órgão. Alguns tipos de micróbios ficam no intestino, outros produzem toxina absorvida pela circulação sanguínea e há os que podem invadir diretamente tecidos mais profundos do corpo.

Principais reações: náusea, dor abdominal, vômito, diarreia, febre, dor de cabeça e cansaço. Na maioria dos casos, o corpo é capaz de recuperar-se completamente depois de um curto período. O quadro pode ser perigoso especialmente em bebês, mulheres grávidas (e o feto), idosos, pessoas doentes ou com o sistema imunológico fraco, como aidéticos.

— O ideal é ir ao hospital caso os sintomas não desapareçam em três dias, ou quando há febre, sinais severos de desidratação, pois aí há a necessidade de investigação do que provocou a intoxicação — afirma Cristina.

Dicas para evitar a contaminação por alimentos

:: Qualquer tipo de alimento preparado deve ser consumido no máximo em 24 horas, isso quando refrigerado.
:: Lave as mãos cuidadosamente, incluindo dorso, entre os dedos, polegar, articulações, punhos e unhas.
:: Se tiver cortes ou ferimentos, não manipule alimentos ou faça um curativo.
:: Animais carregam micro-organismos e devem ficar longe da cozinha.
:: Seque as mãos com papel toalha, pois o pano de prato acumula micro-organismos.
:: Unhas devem ser mantidas limpas, aparadas e sem esmalte.
:: Use touca ou prenda os cabelos.
:: Utilize diferentes utensílios para alimentos crus e cozidos.
:: Não use pano de prato como se fosse avental.
:: Não coma alimentos prontos que ficaram mais de quatro horas fora da geladeira.
:: Lave pia, mãos e utensílios com água e sabão após o contato com alimentos crus.
:: Separe carnes e peixes crus de outros alimentos.
:: Prefira recipientes de louça ou de vidro, em vez dos de plástico.
:: Evite encher a geladeira e mantenha a temperatura inferior a 5°C e não misture alimentos diferentes, como carnes e vegetais.
:: Não use lixeira de pia, pois ela aproxima as bactérias dos alimentos.
:: Utensílios de madeira são excelente moradia para bactérias. Prefira os de silicone.
:: Fuja de legumes e frutas amassados, rachados ou batidos. Quando os alimentos estão danificados, as portas estão abertas para os micro-organismos.
:: Nunca coma ovos crus ou com a gema mole. Tire do seu cardápio maioneses caseiras, ovos mexidos com gema mole, gemadas, mousses ou qualquer outro alimento que seja produzido com ovos e que não vá para o fogo. O cozimento por sete minutos garante a morte da salmonela.
:: Antes de armazenar frutas, lave-as com água e sabão neutro. As verduras e legumes devem ser passadas em água corrente e imersas em uma mistura de água sanitária não odorizada por cerca de meia hora.

E-Coli: a mais agressiva

A bactéria E. Coli Enterohemorrágica, responsável pela morte de pelo menos 17 pessoas na Alemanha, é uma variação mais agressiva de uma bactéria comumente encontrada no trato gastrointestinal. Em nosso organismo, ela contribui com o processo digestivo. Mas existem variações patogênicas, que provocam doenças. A variação encontrada na Europa é identificada por cientistas como O157:H7. Essa cepa (tipo) pode provocar sangramento intestinal, falência renal e até a morte.

Os casos mais graves geralmente são registrados em crianças menores de cinco anos, em idosos ou em pessoas com a saúde fragilizada por alguma outra doença. Em pessoas saudáveis, a bactéria provoca diarreia e pode ser tratada de forma sintomática, com medicações e hidratação. Nos pacientes de risco, o tratamento requer uso de antibióticos. Em crianças pequenas, a E.Coli é frequentemente identificada em testes de urocultura, já que ela causa infecções urinárias — por isso, é importante estar atento para o risco da bactéria prejudicar os rins. Ela é uma causa comum de insuficiência renal aguda.

A transmissão da bactéria acontece por alimentos contaminados. No Brasil, já houve registro de casos após a ingestão de carne mal passada. Para evitar, o ideal é ingerir apenas carnes bem cozidas e lavar verduras e legumes com solução de água com hipoclorito (água sanitária). A letalidade da bactéria é considerada baixa, entre 3% e 5%.

Com informações do Caderno Vida ZH.
Foto: Andrey Kiselev

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