terça-feira, 7 de junho de 2011

Especialistas são unânimes: felicidade traz longevidade


Felicidade refere-se à avaliação subjetiva que o indivíduo faz das suas capacidades, do ambiente e da sua qualidade de vida. Estudos mostram que aqueles que apresentam baixos níveis desse bem-estar tendem a apresentar mais transtornos depressivos, pior percepção da sua saúde e insatisfação com a própria vida. Conforme a psicóloga Tatiana Quarti Irigaray, os efeitos da depressão sobre a mortalidade são semelhante ao risco do fumo, da hipertensão e do diabetes:

— Pessoas com felicidade subjetiva podem acrescentar entre quatro e dez anos de vida em relação àqueles com baixos níveis de bem-estar.

Sobre este tema, psiquiatras, cardiologistas, geriatras e cientistas são unânimes: felicidade traz longevidade.

Imunidade ao mau-humor

Um superaquecimento do motor do carro na véspera de uma viagem para a praia é a lembrança mais recente de felicidade do empresário Toshio Luiz Targa Tadano, 40 anos. Em vez de lamentar o atraso no passeio, agradeceu pelo inconveniente. Melhor que estragasse na cidade do que na estrada. Se Toshio seguir a vida assim, protegendo-se do estresse com sorrisos, tudo indica que chegará à terceira idade doando bem-estar e saúde.

Wilma Glorinda Peletti Tonolli já está colhendo esses frutos. Ela tem 79 anos, quase o dobro da idade de Toshio, e uma disposição de dar inveja. Começou a nadar aos 55 anos, assim que se aposentou em Caxias do Sul, e, três anos mais tarde, viúva, dedicou-se a competições. Sem filhos, hoje, mora sozinha em Porto Alegre e contabiliza 512 medalhas. A nadadora adotou também o remo como distração eventual, faz musculação, viaja para a casa dos sobrinhos sempre que pode e não abre mão de divulgar os dentes claros e alinhados.

— Nadar se tornou um vício. Nem penso quantos anos mais vou viver. Me sinto super bem e feliz — conta a mulher de 1,52 metro de altura, 47 quilos, corpo delineado pelos exercícios, maquiagem definitiva no rosto e saúde impecável.

É claro que Wilma e Toshio não são imunes à tristeza. Só que buscam reverter o quadro: ela mergulhada no esporte, ele em pensamentos edificantes. Ambos dispensam teorias. São capazes de dizer na prática que o nível de felicidade é diretamente proporcional à longevidade.

Mas o que traz felicidade?

Há anos, cientistas tentam descobrir formas de medir essa sensação. Sabe-se que o estresse crônico tem um impacto negativo na saúde, mas o efeito que a felicidade tem sobre o organismo ainda não está bem estabelecido. A psiquiatra Clarice Kowacs, no entanto, lembra que atitudes positivas, hábitos saudáveis e alegria de viver favorecem à prevenção de doenças e ajudam a aderir aos tratamentos médicos.

— A felicidade contínua é uma ilusão. Sua constância depende de uma combinação rara de capacidade pessoal e sorte. Inúmeros acontecimentos podem abalá-la. Sem que haja tolerância à frustração, a felicidade não é possível — afirma Clarice.

Os depressivos tendem a sobrecarregar o coração e o sistema circulatório e já está comprovado: depressão provoca doenças e pode levar à morte precoce. É que a reação de alarme proposta pelo estresse faz com que o organismo busque o equilíbrio, aumentando a pressão sanguínea e o trabalho cardíaco, obrigando o corpo a gastar mais energia. O resultado são doenças como arteriosclerose e problemas vasculares. O cardiologista Luiz Carlos Bodanese, coordenador do curso de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) sobre fatores de risco cardiovasculares, é convicto, pela experiência, de que aqueles pacientes de astral elevado têm como impacto uma vida mais longa:

— Aceitam indicações médicas e conseguem mudar hábitos de vida pouco saudáveis com facilidade.

Mas se manter feliz é uma dádiva. Geralmente, quando chega aos 40 anos, o acúmulo de cobranças faz com que a pessoa tenha como saldo o sobrepeso e o estresse pela falta de férias e relaxamento.

— Aí, começam a procurar psicólogos e psiquiatras em busca da pílula da felicidade. Um remédio capaz de mexer nas zonas transmissoras de bem-estar e gerar a tão almejada felicidade — lamenta Bodanese.

Só tem felicidade aquele que crê. É o que prega o médico Yukio Moriguchi antes mesmo de 1971, quando veio do Japão para assumir o curso de geriatria da PUCRS. O geriatra de 85 anos, que mantém o riso oriental, prega que envelhecer é uma graça de Deus.

Toda essa felicidade não brota da noite para o dia e ter espiritualidade é a chave para se conquistar o bem-estar emocional, segundo Moriguchi.

— É preciso acreditar no invisível para saciar a alma. O concreto, o físico acalma no momento e em seguida se quer mais.

Pesquisa realizada em 2002, pela Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, colabora com a teoria de Moriguchi. Cerca de 90 mil pessoas foram acompanhadas por 10 anos e constatou-se que aquelas que iam à igreja uma vez por semana tinham o risco de mortalidade diminuído pela metade, o de enfisema, 56%, cirrose 75% e suicídio 53%.

Um bom símbolo de fé é o Frei Romano Zago, 78 anos. Conhecido como o rei da babosa, o frei franciscano já viajou o mundo palestrando sobre a cura do câncer por meio da planta. Já perdeu as contas de quantos já foram curados pela receita que inclui mel e cachaça. Desde 1988 essa é uma de suas ocupações. Frei Romano vive em um meio em que os religiosos tendem a passar dos 80 anos com facilidade. Desconhece pesquisas que atestem esse fenômeno, mas é categórico ao dizer que a fé dá sentido à vida e deixa as pessoas menos rabugentas. Com um sorriso difícil de desarmar do rosto, o frei solta:

— Sou o homem mais feliz desse mundo. Sei que Deus me deu essa missão. Cada dia me sinto melhor.

Felicidade de pai para filho

O neurogeneticista do Hospital Albert Einstein, David Schlesinger, desconhece pesquisas sobre se a felicidade é transmitida de pai para filho, mas garante que na situação inversa dela a resposta é positiva. Já se sabe que os genes da infelicidade daquelas pessoas que são deprimidas são capazes de flutuar por gerações.

São centenas de genes influenciando esse comportamento depressivo, cada gene tem uma pequena importância, o que acaba sendo uma pequena média entre os genes do pai e os da mãe e isso vale para qualquer característica.

— Pessoas normais ficam felizes quando ocorre algo positivo e tristes com o negativo. Os deprimidos ficam tristes sempre — explora David.

A carga genética, contudo, não é dominante de forma isolada. Fatores externos e ambientais, como o tipo de criação que um indivíduo teve e a interação social contribuem. Um ambiente mais feliz somado a uma possível pré-disposição genética tende ser uma fórmula razoavelmente garantida para um adulto melhor humorado.

— A plasticidade cerebral da pessoa acaba sendo moldada para o bem — defende o médico.

Confira uma lista dos principais itens que trazem a felicidade e como conciliá-los no cotidiano.

1. Faça parte de grupos, desde a igreja até clube de leitura, mas mantenha a autonomia para escolher o que é melhor para si.

2. Ajude e respeite quem está a sua volta. Agradecer aos outros por pequenos atos pode ser um bom começo.

3. Mude hábitos para se sentir melhor: não fume, não consuma bebidas alcoólicas, não use drogas, cuide da alimentação, faça exercícios físicos regularmente, tenha oito horas de sono e relaxe o corpo e a mente.

4. Ria sempre que puder e não se contenha se quiser gargalhar sozinho.

5. Pratique atividades lúdicas e de lazer. Arrume tempo para você, para os amigos e para as coisas que gosta de fazer.

6. Seja fiel aos seus sonhos, aos amigos e à família, mas adapte os seus desejos quando as circunstâncias exigirem.

7. Mantenha sempre um objetivo e não desista caso algo saia fora do planejado.

8. Comemore mesmo as pequenas conquistas, como encontrar uma vaga no estacionamento, e dê a si próprio pequenos agrados, como um café com um amigo e horas de relaxamentos.

9. Perdoe.

10. Faça uma avaliação contínua de si próprio, de seus valores, de sua atuação profissional e de seu papel na família.

Fonte: Tatiana Irigaray, psicóloga e doutora em Gerontologia Biomédica

Traços de personalidade com mais chances de ser feliz

:: Extrovertidos: são aquelas pessoas com mais facilidade para se abrir acerca de problemas pessoais. Em geral, têm alto-astral e faz com que as pessoas queiram se aproximar.

:: Positivos e otimistas: buscam sempre o lado bom das situações.

:: Tolerantes a frustações: superam quando a realidade não é a que se espera.


Com informações do Caderno Vida ZH.

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