terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A importância do lazer para a família


Não é preciso gastar muito verbo para dizer que as ruas das cidades grandes e médias brasileiras deixaram de ser habitáveis. Isso todo mundo sabe. Vai longe o tempo em que as crianças podiam brincar com os amigos na rua, sob os olhos descansados dos pais e vizinhos que conversavam por ali, sentados na calçada. Foram-se todos para dentro de casa, em parte por medo da violência, mas também porque ninguém mais tem tempo de jogar conversa fora com os vizinhos. Mas essa é uma cantilena antiga. O que pouca gente percebe é que, ao nos fecharmos em casa, perdemos uma coisa valiosa: o espaço de lazer.

Essa carência da vida urbana é mais difícil de ignorar no caso das crianças, que, na ausência de quintal, parque ou rua, trazem para dentro de casa as brincadeiras, os brinquedos e às vezes toda a molecada do prédio para brincar no quarto. Difícil não ouvir esse tipo de apelo (muitas vezes feito aos berros) por mais espaço.

O problema também afeta os adultos, mas poucos percebem, tão condicionados estamos a esquecer nossa própria satisfação e a focar a atenção nas obrigações, competição e prova de competência. E o que é o lazer, senão um prazer pessoal, a realização daquela atividade de que você gosta?

"O lazer é fundamental para o ser humano, mas as pessoas desaprenderam a se divertir de verdade", diz a educadora Célia Tilkian, diretora-geral do Colégio Pentágono, de São Paulo. Resta essa nova modalidade de diversão, o lazer de consumo, representado pelos shopping centers, que oferecem o pacote completo: compras, cinema, parquinho e restaurantes. Mas acalme-se! Nem tudo está perdido. Sempre é possível explorar os espaços disponíveis na casa ou apartamento para criar locais de diversão.

Cidade da criança

Todo mundo sabe que criança precisa de espaço para brincar. Afinal, é por meio de atividades lúdicas que ela desenvolve sua personalidade e define seu papel na sociedade. E casa pequena não é desculpa para limitar as atividades infantis dentro dela.

O quarto das crianças, por exemplo. Para os pequenos, cama é aquele lugar gostoso para onde são levados quando dormem num canto qualquer da casa tentando resistir ao sono. E de onde pulam assim que abrem os olhos, a qualquer hora do dia (ou da madrugada). Ou seja, criança não gosta de ir para a cama. Assim, confine o lugar de dormir (para duas crianças, serve um beliche) e abra mais espaço para a bagunça. A artista plástica e designer Elisa Stecca soube, numa casa de vila, ceder espaço para as filhas de 4 e 5 anos. Em vez de destinar um quarto para cada menina (o sobrado tem três dormitórios), Elisa escolheu o menor para dormir - com uma bicama - e transformou o maior numa sala de brincar.

Para adultos

Quando os filhos crescem e os carrinhos e as bonecas perdem o encanto, o lazer em casa passa a ser parecido com o dos adultos, com ou sem filhos. Cozinhar, jogar jogos de tabuleiro, cantar ou brincar de teatro são atividades boas tanto para as crianças quanto para os adultos. "Em família, essas diversões ajudam os pais a perceberem melhor as necessidades dos filhos, mas os adultos também aproveitam ao se entregarem a algo a que eles não estão acostumados", diz Maria Ângela, da PUC.

E isso nem requer muito espaço. A cozinha já está lá, pronta para virar laboratório, a sala vira palco para encenação, a mesa de jantar (forrada com um plástico grosso) se transforma em cavalete de pintura. "Ter um espaço específico para lazer doméstico é o que menos importa. Tudo depende de como as pessoas encaram as atividades e do quanto elas se abrem para novidades", afirma a educadora Célia Tilkian.

Quando envolve o lazer dos filhos, o segredo está em estabelecer regras. Você pode abrir a casa para eles receberem os amigos num esquema diferente. Em vez de a moçada ficar apenas assistindo vídeo, jogando games e navegando na internet, libere a cozinha. Deixe sob responsabilidade deles o preparo de pizzas, macarrão ou sanduíches, por exemplo, e combine previamente que a limpeza também é encargo deles. A noitada ainda pode se completar com jogos de tabuleiro.

"Os jogos são instrumentos de lazer para qualquer idade. Divertem, afinam a personalidade e são um mecanismo de autoconhecimento. Com eles as pessoas acabam expondo suas reações mais primitivas", diz Mônica Hardy Sabino, diretora comercial da Origem Jogos e Objetos - empresa mineira que produz jogos.

Transforme a sua casa

1. No quarto dos pequenos, abuse dos móveis com rodízio. São fáceis de deslocar para liberar espaço para brincadeiras.

2. Deixe caixas ou cestos de brinquedo ao alcance das crianças para que elas possam pegar o que quiserem com total liberdade.

3. Existem empresas que fabricam tinta esmalte fosca usadas em quadro-negro escolar. Que tal pintar uma porta ou uma parede do quarto das crianças para elas desenharem com giz?

4. Estimule o faz-de-conta comprando ou fazendo fantasias para seus filhos - mas um cesto com roupas velhas, lenços, luvas e chapéus também vale para despertar a fantasia.

5. Uma barraca de pano montada no quarto, varanda ou quintal é um elemento tão lúdico quanto a piscina de água ou de bolinhas e o tanquinho de areia.

6. Para tirar seus filhos da frente da TV ou do computador, invente novidades como um piquenique na sala. Leve-os a uma loja para comprar jogos que despertem o interesse deles, faça bijuterias com suas filhas ou confeccione pipas com os meninos.

7. Saiba ouvir, respeitar e negociar (se for o caso) as prioridades de lazer de seus filhos.

8. Não basta fornecer todos os elementos para divertir as crianças. Você também tem que brincar com elas.

Fonte: Vida Simples

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